Love Letter do Luís de Camões
Sofia Ester
História premiada no 4º Concurso Nacional de Jornalismo Juvenil
organizado pela
Comissão Nacional para a Comemoração dos Descobrimentos Portugueses
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uís, desde que me foste apresentado na
aula de Português, nunca mais te consegui esquecer! Os teus versos tocaram-me
no fundo do meu coração fazendo florescer nele a imutável flor do amor. Quem me
dera ter sido a tua Dinamene, mártir da paixão, ou ter encarnado uma das tuas
musas inspiradoras.
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o entanto, sei que, injustamente, não te
foi proporcionada uma vida como o teu génio merecia. Nasceste pobre, de haveres,
mas não de espírito. No entanto, apesar do parco poder económico de teus pais,
eles não abdicaram de te dar uma boa educação humanística, em Coimbra. Como eu
desejava ter sido tua colega e namorada. Poder ter-te acompanhado ao cinema e à
discoteca. Como, actualmente, o amor é livre, até nos poderíamos beijar em
público. Juntos, teríamos feito magníficos trabalhos de grupo. Até nem
precisávamos de escrever à mão, já que, com os computadores, o trabalho fica
mais facilitado.
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cabados os teus estudos, voltas de novo a
Lisboa, para a corte, onde, obedecendo à tua alma idílica, rapidamente te
apaixonas pela filha do rei. Como eu a invejo! Em recompensa pelos teus
sentimentos, acabam por te forçar ao desterro, em África, terra estranha e
árida, onde acabas por perder um olho. Pobre Camões! Se vivesses nos nossos
dias, já não terias problemas. Hoje, os de sangue azul já se podem
casar com as pessoas povo e vice-versa. Vê, por exemplo, as princesas do
Mónaco. Até faz bastante sensação na imprensa! Quanto a ser desterrado, isso
seria impossível. África, desde o 25 de Abril, já nem sequer é nossa.
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e retorno a Lisboa, a tua deformidade na
face causa o divertimento de algumas damas da corte, mentes medíocres e baixas,
vulgares, comuns. Com o nosso avanço em cirurgia plástica, já não terias esse
problema. Podem corrigir-se todo o tipo de cicatrizes e defeitos e, inclusive,
implantar um globo ocular artificial. Provavelmente, sentiste-te solitário,
incompreendido, e envolveste-te numa luta com Gonçalo Borges, encarregado das
cavalariças do rei, acto impensado que te levou à cadeia do Tronco (actualmente
tudo se resolve com diplomacia, embora nem sempre resulte. Repara nos acordos
de Bicesse!!!). A 7 de Março de 1553, és libertado e novamente afastado da
pátria, desta vez para Goa, em serviço militar. Em 1995, terias mais
possibilidades de não ser sentenciado. Agora, além dos tribunais normais, temos
também os internacionais, a que poderias recorrer. Parece impossível que, com
uma alma tão dedicada aos estremecimentos do coração, venhas a destacar-te no
exército quer em Malabar, onde combateste o rei da pimenta, quer no Estreito de
Meca ao mar Vermelho, onde interceptaste os navios turcos, quer no Oriente e na
Ásia, na defesa contra os assaltos dos piratas. Com a tecnologia moderna, a
guerra também é agora muito mais rápida e eficiente. Temos um grande arsenal
militar à nossa disposição, e o confronto corpo a corpo é coisa que já passou
de moda, embora a frota marítima portuguesa deixe muito a desejar!
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pesar da ingratidão com que a pátria
sempre te tratou, não deixas de lhe escrever o maior dos seus elogios,
Os Lusíadas, terminados em 1567. O teu
espírito, em nada vingativo, não se revoltou ao dedicar a Portugal estes
magníficos versos, reconhecidos e admirados em todo o mundo.
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o voltar a Lisboa, encontraste-te na mais
terrível das misérias, sobrevivendo à custa de esmolas, tu que, de todos os
homens, serias digno das maiores riquezas mas nunca de pena. Os teus poucos
amigos tiveram de se revezar para te sustentarem e para te trazerem de volta a
Lisboa. Aqui, um dos teus primeiros objectivos foi publicar Os Lusíadas. No
entanto, até isto te foi dificultado. Juntando-se aos teus carrascos, a igreja
torturou-te com censuras por invocares deuses pagãos. No meu tempo, isso já não
aconteceria. Cada um pode escrever o que quiser, dizer mal de quem lhe
apetecer, invocar os deuses de que gostar, pois a imprensa tem liberdade
absoluta.
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pesar de tudo, consegues publicar a tua
epopeia. Em troca dos teus serviços militares no Oriente, recebes uma tença de
15000 reis anuais, quantia medíocre que te condena a ti e à tua mãe à miséria.
Querido Luís, se tivesses nascido mais tarde, nem sequer dessa pensão
insultante precisarias. Os teus versos estão em todos os manuais escolares de
Português e Os Lusíadas são disputados pelas editoras.
Serias mais rico que Onassis. Sabes que tens várias
estátuas que foram caríssimas? Até há um dia que te é dedicado e é feriado
nacional! Imagina o valor de todo um país parado, como acontece todos os anos,
no dia 10 de Junho! É irónico que, pela altura da tua morte, não dispusesses
sequer de uma manta para te amortalharem. A herança literária que nos deixaste
será eterna, uma fonte de informação para todas as gerações.
Permanecerás imortalizado nos nossos corações, especialmente no meu,
como um verdadeiro génio, um homem
indiscutivelmente acima da média. Luís, amo-te para sempre!
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Sempre tua,
Leonor Santos.
P.S.: Vou atirar esta mensagem ao mar dentro
de uma garrafa, na esperança de que ela chegue a ti e de que a possas ler no
Além.
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